15 de setembro de 2012

MARDUK: Confira entrevista realizada com a banda durante a turnê no Brasil

Por Regina Toma ao site Hard and Heavy

Divulgando o mais recente álbum de estúdio, Serpent Sermon, lançado este ano pela Century Media, a banda sueca Marduk passou pelo Brasil, em agosto, para uma série de shows. Após a apresentação em São Paulo (SP), a equipe do Hard and Heavy conversou com Morgan “Evil” Håkansson, guitarrista e fundador desse grande nome do Black Metal mundial que é o Marduk.

Morgan mostrou-se bastante descontraído, contou que na noite anterior o Marduk havia tocado em Florianópolis (SC) pela primeira vez, sendo bom alcançar novos públicos e poder tocar em lugares inéditos, pois quando tocam no Brasil quase sempre os shows são nas mesmas cidades. Ainda foi possível conversar sobre vários assuntos, desde coisas relacionadas à banda até o suicídio de Dead, ex-vocalista do Mayhem e seu amigo pessoal. Ou seja, um bate-papo bem diferente dos que as pessoas estão acostumadas – pelo menos em se tratando de um ícone do Black Metal.

HH – Essa é a terceira vez que vejo um show do Marduk…

Morgan “Evil” Håkansson – Sempre em São Paulo?

HH – Sim.

Morgan “Evil” Håkansson – Lembro-me de um dos três piores shows que já fizemos: tocaríamos com o Vader (Nota: em 2008, Vader e Marduk tocaram juntos no Brasil.) e nenhuma de nossas guitarras havia chegado, tivemos que emprestar todo o equipamento, foi foda. Foi um dos piores shows da minha vida!

HH – Marduk tem mais de vinte anos de carreira, como tem sido estar numa banda por todo esse tempo?

Morgan “Evil” Håkansson – Passou muito rápido, quer dizer, somente agora foi que parei para pensar que já se passaram vinte e dois anos. Antes eu não pensava nisso porque estava sempre ocupado trabalhando, em turnês, etc, mas quando você fica velho começa a refletir. Quando começamos era tipo: “Ficaremos na ativa por uns anos”. Para mim, ainda me sinto com o mesmo ânimo do início da banda, com o mesmo entusiasmo e dedicação. É uma jornada longa e sombria, e continuaremos a fazer o que fazemos porque é nisso que acreditamos. Na verdade, me sinto mais jovem agora do que há vinte anos.

HH – Como você se sente tendo fãs mais jovens do que a banda?

Morgan “Evil” Håkansson – A gente tem fãs que são dez, quinze anos mais velhos do que eu, eu converso com eles e eles falam que viram o Iron Maiden em 1981, é legal. Encontramos fãs mais jovens e mais velhos, com diferentes idades, cada um começa a curtir metal em fases distintas da vida. Mas é legal ter fãs de todas as faixar etárias.

HH – Algumas das músicas do Marduk têm como tema principal a Segunda Guerra Mundial. Você acha que isso talvez influencie os mais jovens a se interessarem pelo assunto?

Morgan “Evil” Håkansson – De certa forma, sim, porque é um assunto fascinante e é um importante fato na História. Para mim, não penso muito nisso musicalmente falando, mas a Segunda Guerra Mundial é algo que realmente me interessa e pelo qual sempre tive uma grande atração, li bastante sobre (a Segunda Guerra), de diversas fontes. Quando crio uma música na minha cabeça, simplesmente a música vem. A Segunda Guerra é uma inspiração para mim, e eu não consigo resistir (a escrever uma música) sobre algo que me inspira.

HH – E é algo sobre o qual você pode escrever para sempre.

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, claro, se eu quiser. Se alguém tiver algum problema com isso, não dou a mínima. Pode-se cantar sobre qualquer coisa, mas se você fizer música sobre determinados assuntos, as pessoas falam: “Como você pôde fazer isso? Você não deveria fazer isso!”. Mas nossas músicas tratam do assunto objetivamente, do jeito que as coisas aconteceram, então para mim não há problema algum.

HH – Você não deve se sentir constrangido.

Morgan “Evil” Håkansson – De forma alguma, simplesmente escrevo sob o meu olhar (sobre a Segunda Guerra Mundial).

HH – O Marduk gravou um cover de Oil On Panel, do Woven Hand (Nota: EP contendo Souls For Belial e Oil On Panel), que é uma banda Folk. Você curte Folk?

Morgan “Evil” Håkansson – Eu gosto de uma coisa ou outra, não gosto de tudo. É a mesma coisa com música antiga ou mesmo Black Metal, se você me perguntasse se eu gosto de Black Metal, sim, eu gosto de algumas bandas específicas, mas não gosto de tudo…

HH – Não necessariamente (gostar) de todas as bandas, de todas as músicas…

Morgan “Evil” Håkansson – Eu gosto daquilo que me toca, que significa algo para mim, é assim com o Dark Folk Music americano, eu gosto de algumas coisas específicas, gosto do Woven Hand, material antigo do Bob Dylan, dos anos 60, Neil Young antigo… Se for genuíno, se for criado de forma genuína… Digo, gosto de música criada por pessoas que vivem para o que fazem.

HH – Você faz parte do Death Wolf e foi gravado um cover de uma música do Death in June, que também é meio Folk…

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, nós gravamos um cover do Death in June. Não todas (as músicas), mas algumas são realmente boas. Gravamos um cover de Little Black Angel, que eu considero uma canção muito boa e poder fazer nossa própria versão foi ótimo.

HH – E é interessante porque o Death in June também usa o Totenkopf. Qual sua opinião sobre esses símbolos, Totenkopf, Cruz de Ferro, etc, que são utilizados por várias bandas?

Morgan “Evil” Håkansson – A Cruz de Ferro é um símbolo antigo, assim como o Totenkopf…

HH – É que muita gente relaciona essas coisas com o Nazismo, mas já eram utilizadas bem antes…

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, mas a versão do Totenkopf que a maioria usa é a que foi utilizada pelos alemães naquela época; a versão mais antiga, da Prússia, é um pouco diferente, se não me engano foi usada pela primeira vez no funeral do imperador, pode-se ver o Totenkopf naqueles chapéus de pêlo, depois continuou a ser usado como um símbolo da elite, passou para a cavalaria, para o exército alemão e assim continuou sendo utilizado.

HH – É uma insígnia bastante forte, tem a representação da morte…

Morgan “Evil” Håkansson – É, para mim é uma forte representação para morte.

HH – A caveira, de uma certa forma, tem essa forte conotação com a morte…

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, e é um símbolo bonito.

HH – Vocês gravam no estúdio do Devo, fazem as artes das capas dos discos, os encartes, etc, certo? Como é ter essa autonomia?

Morgan “Evil” Håkansson – Nós fazemos tudo, gostamos de trabalhar desse modo. Temos uma ótima visão do que queremos, então, quem poderia fazer isso melhor do que nós mesmos? Trabalhamos no estúdio, sabemos como queremos que seja nosso som…

HH – Vocês preferem não ter uma segunda opinião…

Morgan “Evil” Håkansson – Às vezes…

HH – Quero dizer, é o seu trabalho, então…

Morgan “Evil” Håkansson – É, nós trabalhamos com música então sabemos o que queremos, e quando entramos no estúdio já temos uma ideia formada, e quem poderia fazer isso melhor do que nós mesmos? Temos nossa própria visão sobre o que queremos.

HH – Quando vocês gravam um álbum já possuem a ideia geral de como querem que seja o resultado?

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, quando entramos no estúdio, gravamos em uma ou duas semanas.

HH – Sério?

Morgan “Evil” Håkansson – É porque trabalhamos duro e sabemos o que queremos.

HH – O Marduk tocou naquele cruzeiro 70000 Tons of Metal, em 2011. Como foi essa experiência?

Morgan “Evil” Håkansson – Foi algo diferente, várias de bandas de diferente estilos de Metal, ficar por quatro dias no Caribe… Foi legal, quer dizer, precisávamos levar um pouco de escuridão para aquele festival. Eu não sou muito fã de ficar rodeado de pessoas por muito tempo, mas deu tudo certo. Teve show do Voivod, do Saxon… É, foi uma boa experiência.

HH – Faria de novo?

Morgan “Evil” Håkansson – Talvez…

HH – Ficar tanto tempo confinado…

Morgan “Evil” Håkansson – Fazemos o que fazemos, não importa onde ou com bandas de diferentes estilos, desde que possamos fazer o que fazemos.

HH – Desde que vocês estejam fazendo o que gostam, está tudo certo.

Morgan “Evil” Håkansson – É, se curtimos o que fazemos não me importa o que os outros toquem.

HH – Qual a relação do Marduk com outras bandas suecas? São amigos de alguma?

Morgan “Evil” Håkansson – Temos amizade com algumas, nos encontramos em festivais, às vezes fazemos turnês juntos. Se pegarmos as bandas do final dos anos 80, conheço os caras do Entombed, do Dismember, mesmo do Grave… Quer dizer, (a Suécia) não é um país grande, a gente acaba se conhecendo em shows ou em turnês. A Suécia possui uma boa cena, com muita gente realmente dedicada.

HH – Gostaria de fazer um festival com essas bandas?

Morgan “Evil” Håkansson – Por que não? Talvez isso ocorra no futuro.

HH – Você era amigo do Jon (Nödtveidt), do Dissection?

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, a gente se conheceu por volta de 1989.

HH – Qual foi sua reação quando soube da morte dele?

Morgan “Evil” Håkansson – A gente não conversava muito nessa época, nos falamos mais de 1989 até 1997, então ele foi preso; nos encontramos algumas vezes depois disso, conversávamos de vez em quando por telefone… Ele fez o que fez, foi decisão dele, a vida era dele.

HH – Serpent Sermon é o primeiro álbum com a Century Media, como está sendo trabalhar com ela até agora?

Morgan “Evil” Håkansson – É um grande selo. Quando estávamos trocando de selo recebemos ofertas de quase todos selos de Metal, e resolvemos escolher a Century Media porque acredito que ela tem uma base muito forte, trabalha duro e é bem dedicada, além de ser um grande selo.

HH – E deram liberdade para vocês trabalharem do seu jeito?

Morgan “Evil” Håkansson – Totalmente, caso contrário não assinaríamos com qualquer selo que fosse. Não aceitamos que interfiram em nossos layouts, nas letras, na nossa música, e tudo mais. Mas a Century Media já conhecia o nosso modo de trabalhar e falou: “Vocês podem continuar trabalhando do jeito que quiserem.”, e nós: “Hmm, ok!”.

HH – Legal!

Morgan “Evil” Håkansson – Sim! Porque sabemos o que queremos e eles (Century Media) sabem o que querem, nós fazemos nosso trabalho e eles fazem o trabalho deles. Não interferimos no trabalho deles, eles não interferem no nosso. Demos o álbum pronto para eles e então eles fizeram o trabalho deles. É um bom jeito de trabalhar.

HH – Sobre o Mortuus, ele ainda é comparado ao Legion. Como você encara isso?

Morgan “Evil” Håkansson – O Mortuus foi e vai continuar sendo comparado ao Legion, as pessoas sempre farão essa comparação. Quando se fala de Iron Maiden, por exemplo, existe aquela coisa “Paul Di’Anno isso, Bruce Dickinson aquilo”, é o jeito que as coisas são. A mudança de frontman é algo importante, mas as pessoas têm de aceitar porque é assim que as coisas são.

HH – É que ainda hoje as pessoas falam “Eu prefiro o Legion” ou “Eu prefiro o Mortuus”…

Morgan “Evil” Håkansson – É, mas sempre vai ser assim, o mesmo acontece com outras bandas. Como disse antes, no caso do Iron Maiden, as pessoas falam: “O Paul Di’Anno é melhor do que o Bruce Dickinson”, sempre vai haver discussão sobre isso, mas essas mudanças acontecem e você tem de seguir em frente.

HH – E o Mortuus também se encaixou bem na banda, então…

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, e não só musicalmente falando.

HH – É você o principal compositor da banda ou todo mundo participa?

Morgan “Evil” Håkansson – Depende, varia de música para música, de álbum para álbum. Nesse último álbum trabalhamos mais unidos, todo mundo escreveu, mas não importa quem fez isso ou aquilo porque somos uma banda, e, no final das contas, um pode não ter feito os riffs mas teve participação nos arranjos, cada um fez sua parte nos ensaios antes de gravarmos, o resultado é o trabalho da banda como um todo. Somos quatro pessoas trabalhando em conjunto.

HH – Nenhuma briga entre vocês quatro?

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, algumas, mas nada grave. Claro que sempre há discussão sobre alguma coisa, cada um tem sua opinião, mas todos sabem o que é melhor para a banda.

HH – Nenhuma morte…

Morgan “Evil” Håkansson – Não, não!

HH – Não… Ainda!(risos)

Morgan “Evil” Håkansson – Vamos ver daqui umas semanas… (risos)

HH – É verdade que você tem pedaços do crânio do Dead (vocalista do Mayhem)?

Morgan “Evil” Håkansson – É!

HH – Como você conseguiu?

Morgan “Evil” Håkansson – Nós éramos bons amigos e quando ele se suicidou… Bem, naquela época não usávamos telefone, costumávamos nos comunicar por cartas, e como eu não recebia nenhuma resposta, comecei a pensar: “O que diabos aconteceu?”, até que recebi uma carta do Euronymous falando que o Dead havia se suicidado e que ele tinha pedaços do crânio dele (do Dead) e ia enviar para oito pessoas, para mim inclusive. Ainda guardo o pedaço do crânio do Dead em um santuário em casa. Nem pensava mais sobre isso, aconteceu há tanto tempo, foi em 1991…

 HH – Você tem uma sorte com amigos de outras bandas, hein?

Morgan “Evil” Håkansson – Ah, nem tanto. Poderia ser pior… (risos)

HH – Antes eles do que você!

Morgan “Evil” Håkansson – É! Mas é assim que é a vida. A morte é certa, a vida, nem tanto.

HH – Quando estiveram no México, provaram gusano, aquela tequila com verme?

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, sim, há muito tempo atrás, em 1995.

HH – É bom?

Morgan “Evil” Håkansson – É. Eu gosto da culinária mexicana, da cultura mexicana. Na verdade, o México foi o primeiro país em que tocamos fora da Europa, então temos uma forte relação com esse país, sempre é bom voltar para lá.

HH – E o público de lá, como é?

Morgan “Evil” Håkansson – Fantástico! Eu gosto das Américas Central e do Sul, mesmo que o México faça parte da América do Norte…

HH – América Latina…

Morgan “Evil” Håkansson – É. O Marduk tem uma forte relação com esses países e é sempre um prazer poder tocar nesses lugares.

HH – Vocês já fizeram shows em vários países, existe algum país em específico que gostariam de tocar?

Morgan “Evil” Håkansson – Já viajamos bastante. Quando começamos a turnê para divulgação desse álbum (Serpent Sermon) fizemos três shows na Sibéria, Rússia, depois fomos para Porto Rico, para os Estados Unidos, para o Canadá, agora estamos aqui… Um lugar que eu realmente gostaria de conhecer, e poder tocar lá, é a África. E também o Oriente Médio.

HH – Legal!

Morgan “Evil” Håkansson – Ainda pretendo ir para esses lugares no futuro.

HH – A gente não ouve falar muito desses lugares quando o assunto é Metal…

Morgan “Evil” Håkansson – Não, mas existe uma cena lá e esperamos poder chegar até eles.

HH – Seria bem interessante!

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, claro!

HH – Vocês possuem fãs nesses lugares?

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, recebemos cartas do Iraque, do Irã, da África também. Não muitas, mas sabemos que existe uma cena lá cuja tendência é aumentar nos próximos anos, e com isso haver shows de bandas de fora, não somente as locais.

HH – E sobre a internet, você acha que isso facilita o contato com os fãs?

Morgan “Evil” Håkansson – De certa forma, sim, mas eu não sou muito fã da internet, não gosto de escrever email, não gosto do facebook, dessa coisa de estar conectado com as pessoas, não gosto de ficar escrevendo o que estou fazendo, “ei, estou indo ao banheiro”, essas coisas… Não quero fazer parte disso, não é a minha praia. (risos)

(neste momento, recebemos um aviso do tour manager para terminarmos a entrevista)

HH – Ok, última pergunta: você curte vinil? Porque o Marduk lançou alguns…

Morgan “Evil” Håkansson – Sim!

HH – Coleciona?

Morgan “Evil” Håkansson – Sim, sempre preferi os vinis. Quando você pega um cd, é como se fosse somente mais um lançamento, mas quando você pega um vinil, é tipo… (faz um gesto como se pudesse sentir o cheiro do vinil), é quando você sente o trabalho realizado.

HH – Sem falar da parte gráfica também, os encartes e tudo mais.

Morgan “Evil” Håkansson – Vinis são os melhores, sempre vão ser. Mesmo o som, vinil é melhor.

HH – Muito obrigada pela entrevista e também pelo show!

Morgan “Evil” Håkansson – Obrigado!

Fonte : Hard and Heavy

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